Lolita na segunda classe

É assim: quem é que pode assegurar que hoje é sexta-feira? Hoje em dia não se pode ter a certeza de nada! Quem é que me pode garantir que isto onde escrevo é o teclado de um computador? Que o IMI não vai aumentar? Que o Cláudio Ramos não seja homem? Ninguém me pode garantir nada! Reparem, eu espero que o facto de eu ser uma pessoa extremamente sensual não vos obnubile o julgamento, desviando a vossa atenção do essencial. Eu sei que vocês não me conseguem ver, e é o que vos vale. Caso contrário, estaríeis de gatas neste momento. Já assim, olhando para o vosso monitor, estais espantados com a líbido que escorre na tinta das minhas palavras, apesar de a tinta ser electrónica e, naturalmente, ser um bocado esquisita quando trata de escorrer. Mas centrando-nos no que é essencial: eu bem sei que estamos todos numa espécie de transe colectivo que nos tolhe o correcto agir, que o digam as professoras primárias responsáveis pelo Plano Nacional de Leitura (PNL), mas não podemos deixar cair o país na lama. Já chega. Alguém que ponha cobro a isto. Precisamos do Eduardo Beauté no poder já, para mais que vem com uma primeira dama que é uma espécie de irmã mais nova da Michelle Obama, o que nos dá garantias a todos de bons penteados e lindos vestidos em cerimónias oficiais. Espero que agora as pessoas me ouçam e de uma vez por todas discutam o que interessa. aliás, estou neste momento super atento ao debate na AR, aguardando ansiosamente que o primeiro ministro se pronuncie sobre esta e outras questões. A quais assuntos me refiro? Olhem, por exemplo: para quando uma remodelação governamental? Para quando, para os Assuntos Parlamentares, o Claúdio Ramos? Para quando, na Defesa, o tipo que faz o anúncio à Rádio Popular? Ou o Cláudio Ramos? Para quando, na Educação, a coordenadora do PNL, que tem ideias novas sobre o que é educar, o que é a primeira vez em muitos anos nesta pasta?! Era uma excelente oportunidade para um ministério que já conheceu mais ministros que o banco do Sporting treinadores... E sempre era uma possibilidade de ler Sade, Nabokov ou Miller na segunda classe, em vez dos já batidos António Torrado, Grimm, La Fontaine ou Sofia. Que pode uma "Menina do Mar" face a uma Justine? é o mesmo que uma luta na lama entre a irmã Lúcia e a Fanny... Quer dizer! Estamos a adiar medidas urgentes. Só vejo um senão na abertura do PNL a autores polémicos como Alice Vieira: a miudagem começar a chumbar de propósito aos seis, sete anos só para poder ler versos de literatura erótica até agora proibidos na instrução primária por gente fascista que sobrou do Estado Novo. Ainda bem que a equipa do PNL ou, como se diz em russo de Portugal, MFA, desceu a terreiro e enfrentou esses pides que escondiam dos alunos do segundo ano Sob os Telhados de Paris, ou, pior ainda, ou melhor ainda, depende da religião, "O Que Dói às Aves". Eu, pessoalmente, já ando a treinar com os meus filhos... Por exemplo, com o de cinco anos ando a substituir o enjoativo:
" - Quem quer, quem quer casar com a carochinha?" pela promissora e sugestiva imagem poética:
" - O que dói, o que dói às aves?" Será o tutu? Vá, não façam biquinho! A vida é mesmo assim e a malta oferece sempre resistência à mudança. Pela minha parte, estou imbuído deste espírito do PNL e leio todas as noites um poema de Alice aos meus filhos. Junto-os aos três no quarto, perninhas à chinês, e eles escutam maravilhados. Depois vou para o meu quarto ler à minha mulher. Perninhas à chinês e o resto da história vocês já sabem...
PS. Só mais uma coisinha: sem parti pris nestas questões da educação, o Cláudio Ramos também daria um excelente ministro da educação, acrescendo que tem um plus em relação a todos os outros potenciais candidatos: é que também dava uma excelente ministra, e essa vantagem ninguém lha tira!

Crónica escrita para Rádio_Humor

Adenda: dá para adaptar esta merda para stand-up. Se alguém estiver interessado, eu ofereço esta texto para o efeito; dá para ler em rádios locais, mas também em emissoras nacionais; dá para adaptar para sketch humorístico; dá para uma refeição ligeira para duas pessoas, quando não há muito tempo para cozinhar, sobretudo, à hora de almoço;

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